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Artigo: A DEPRESSÃO - Por Carolina Portugal Soares Franco

A DEPRESSÃO - Por Carolina Portugal Soares Franco

A DEPRESSÃO - Por Carolina Portugal Soares Franco

A morte do Pedro Lima continua a pairar na minha cabeça e não consigo ficar indiferente. Talvez por ainda não ter 50 anos, ser um homem lindo com um ar jovem, saudável e com um sorriso cheio de luz. Mas, sobretudo, porque eu também já passei por uma depressão e por isso tocou-me de uma maneira muito especial e diferente.

O Pedro era o exemplo de que um bonito sorriso pode esconder muita coisa como uma cabeça muito confusa e uma alma escura, despedaçada e triste.
“Nem tudo o que parece é!” – nunca um provérbio fez tanto sentido.

Pensei muito antes de escrever este texto porque não faz parte de mim expor a minha vida de uma forma tão íntima, mas se puder ajudar ou alertar alguém já fico muito contente. Agora que ultrapassei, que já entendi e arrumei o assunto na minha cabeça e que este já faz parte de um passado longínquo que mais parece ter acontecido numa outra vida faz com que eu tenha muita vontade de dar a conhecer o que passei. Sinto que o devo fazer tanto por mim como para quem possa ser útil.

As doenças do foro psicológico como a depressão são silenciosas, oportunistas e obscuras. A depressão, em particular, é uma doença complexa que passa facilmente despercebida e que nos retira a liberdade de viver e a felicidade. Aproveita-se de nós quando estamos frágeis, sensíveis e quando menos esperamos. Suga-nos. Consome-nos. Mata-nos de forma lenta e silenciosa e, de um dia para o outro vemo-nos embrenhados numa forte e espessa teia que mais parece um labirinto sem saída.
Quando nos apercebemos já se aproveitou e vive dentro de nós sem ter pedido permissão. Faz com que não tenhamos vontade de viver a vida nem mesmo para as coisas que mais gostamos de fazer, com que não nos queiramos levantar da cama para mais um dia, faz-nos sentir que somos um fardo pesado e um problema para quem está à nossa volta. Faz com que uma pessoa sobreviva. A nossa cabeça é realmente muito traiçoeira e dá-nos o poder de conseguirmos agigantar tudo o que nos dá comichão.
É fundamental saber pedir ajuda, mas nem sempre é fácil este passo ser dado. Pensamos que pode ser um dia mau, mas este dia mau prevalece por mais dias e dias. É imprescindível sabermos distinguir isto ou que nos ajudem a ter esta percepção. O acompanhamento num processo tão pesado, obscuro e, por vezes, tão solitário faz toda a diferença. Sofrer e sobreviver em silêncio não é solução.
Vivemos numa sociedade que (ainda) não nos deixa sentir à vontade e este assunto é quase entendido como um tabu de que só os fracos sofrem e, por isso, tantas vezes é arrastado acabando de forma trágica.

(In)Felizmente sei bem do que falo. Se pudesse escolher não digo que voltaria a passar pelo que passei mas, graças a Deus, à minha família, aos meus amigos de sempre, às minhas amigas do padel (que sem saberem tanto me ajudaram) e, principalmente ao meu querido e incansável marido que consegui encontrar a saída deste escuro e confuso labirinto e voltar ter paz e luz no meu caminho.

Lembro-me de pensar quanto tempo demoraria a passar e de ficar apreensiva e ansiosa por saber que não seria de um dia para o outro e que criar um horizonte temporal era o pior que poderia fazer.

Ia acabar por passar… E passou! Foram 2 anos de psicoterapia semanal que me tornaram numa pessoa muito melhor. 2 anos de reestruturação da minha pessoa, de modificação de vários caminhos neurais e onde aprendi a romper e quebrar certos padrões de pensamentos negativos. 2 anos em que me redescobri, me reinventei e me readaptei. Em que me tornei mais confiante. Mais segura. Mais forte. Mais decidida. Mais capaz. Mais mulher. Mais filha. Mais irmã. Mais Mãe. Em que me reinventei e me redescobri. E, sobretudo, me tornei numa pessoa muito feliz, cheia de vontade de viver a vida e de sorrir. Ainda me lembro de quando recomecei a ter vontade de sorrir. Mas a sorrir de verdade e com vontade! Porque eu tal como o Pedro fingia que sorria várias vezes ao longo do dia porque para mim esta era a opção que me dava a mim e aos outros “menos trabalho”.
Quando tudo começou a melhorar parecia um bebé a aprender sorrir quase pela primeira vez pois já não o fazia de forma verdadeira e genuína há algum tempo. E soube-me tão bem, mas tão bem que já não me lembrava o quão bom era!

Nunca mais serei a mesma! E digo isto com um orgulho desmedido e sem vergonha alguma porque gosto muito mais da Carolina de hoje. Sou muito melhor hoje!
Apesar de nos últimos anos me sentir muito bem continuo sem dispensar a minha sessão mensal que tanto prazer me dá e me continua a oferecer as ferramentas para estar cada vez mais plena e para ser cada dia melhor. Obrigada do fundo do meu coração a todos aqueles que me ajudaram a caminhar até aos dias de hoje!

Cabe à nossa geração estar mais atenta assim como educar os nossos filhos de forma a que se sintam seguros para falar abertamente de qualquer assunto que gere burburinho à volta e que seja estigmatizado pela sociedade. Não é justo e nem sequer faz sentido termos que guardar e reprimir sentimentos menos bons dentro de nós. Até porque depois de os vivermos, aí sim, conseguiremos entender o verdadeiro significado felicidade e plenitude!

Que este triste desfecho do Pedro possa dar um pouco de luz a quem mais precisa!
Que a família e os amigos do Pedro arranjem toda a força do mundo para superar este momento de grande dor e perda.

Por Carolina Portugal Soares Franco, Mãe de 2.

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